A chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2019 marcou o fim de uma era – e aqui não se discutirá tese de esquerda ou direita, nada contra ou a favor de PL e PT ou seus partidos-satélites. Mas com o capitão terminava o tempo do obreirismo, como sinalizou a vitória daquele que nunca havia construído sequer um banheiro químico e venceu Fernando Haddad, péssimo prefeito de São Paulo, que realizou um pouco, mas realizou; Henrique Meirelles, viabilizador da ascensão financeira nos governos de Lula e Michel Temer; Ciro Gomes, ministro da Fazenda que garantiu a estabilidade econômica com o Plano Real no Governo Itamar; Geraldo Alckmin, governador de São Paulo em quatro mandatos. E deu Bolsonaro.
Em Goiás e Distrito Federal, se repetiu o fenômeno nacional. O eleitor não deu a menor pelota para inaugurações e cortes de fitas. No DF, Ibaneis Rocha atropelou o então governador Rodrigo Rollemberg (um Haddad distrital, ruim demais, porém fez alguma coisa), o ex-governador Rodrigo Rosso e os conhecidíssimos Alberto Fraga e Eliana Pedrosa. Ibaneis havia sido presidente da OAB em Brasília. Só. E foi o suficiente. Maior surpresa que a do quadradinho apareceu no coração do Brasil. Marconi Perillo estava vindo de seu 4º mandato de governador de Goiás e perdeu a eleição de senador para dois candidatos com primário incompleto, o radialista Jorge Kajuru e o empresário Vanderlan Cardoso, cujo portfólio era ter chegador a senador, mas Senador Canedo, na Grande Goiânia.
A impiedosa surra nos reis das emendas
A derrota dos obreiros foi tamanha que os deputados federais e estaduais que havia décadas se dedicavam ao municipalismo tomaram uma surra de lanhar as costas. Jovair Arantes, à época o goiano mais poderoso do Brasil, coordenava a bancada goiana no Congresso e era campeão de emendas, perdeu a reeleição de deputado federal. Igual a Francisco Oliveira e Eliane Pinheiro, casal real dos feitos por todo o Estado, ficaram sem mandato na Assembleia. Wilder Morais, que havia distribuído 1 milhão de livros para estudantes e levado recursos para todas as 246 cidades, ficou em 3º na tentativa de se manter na cadeira de senador.
No pleito seguinte, o de 2022, Ronaldo Caiado e Ibaneis se reelegeram em Goiás e Brasília, Wilder retomou seu lugar no Senado graças à família Bolsonaro e continuou o limbo dos obreiristas na Câmara dos Deputados e na Assembleia. Para o próximo ano, a expectativa é que chegue ao fim a era do populismo, que alguns chamam também de demagogia e na agenda oficial é tido como série de programas sociais. Entre os de Goiás e os federais passam de 30.
Até há algumas décadas, as doações estatais serviam como reforço alimentar, a maioria era apenas uma cesta básica de vez em quando, tão fraca que idosos beneficiários jogavam nas costas. A coisa escalão. Hoje, os programas habitacionais premiam com casas e apartamentos quitados, basta se inscrever, a fila é aquela ali dobrando o quarteirão. Para dar ideia da diferença, em seu 1º mandato de governador Iris Rezende entrou para a história com mil residências de placas na Vila Mutirão, entregues a famílias enxotadas de outros lugares, como as que tiveram suas casas demolidas para dar lugar ao Terminal Rodoviário, no Setor Norte Ferroviário. Ninguém tinha vida mansa.
Direita e esquerda são unidas na demagogia das bolsas
Os governos foram ampliando os leques das doações, obtendo voto em troca, e o plano deu certo até agora. Mas não parece estar adiantando. Lula faz horrores e não se reverte como em mandatos passados. Os últimos suspiros foram com Jair Bolsonaro, que semeou dinheiro aos borbotões durante a pandemia e na campanha de 2022, até para quem tinha carro (taxistas e caminhoneiros, além de donos de caminhonetes) e mesmo assim foi derrotado por Lula, que havia acabado de sair da cadeia. Chegou a vez de Lula sofrer o revés do término de uma era. Tem feito das tripas doação e nada se reflete no prestígio de seu governo.
Mire-se no exemplo daquelas mulheres do programa habitacional criado pelo PT, o Minha Casa, Minha Vida – em nome delas que saem os documentos dos imóveis. Seu último sorriso era no dia de pegar as chaves. Daí em diante, a alegria tem sido substituída pelos defeitos nas paredes, rachaduras nas colunas, prestação que não conseguem pagar, coisa malfeita que só. As empreiteiras nadam na dinheirama, o governo entra com um percentual, mas o morador padece com os barracões. É claro que a União não iria deixar tamanho descalabro continuar acontecendo. Como agiu? Foi atrás das empresas exigindo a verba de volta? Não: vai imitar o Estado de Goiás e também doar as residências.
No jogo da demagogia, esquerda e direita empatam. Bolsonaro ficou dois anos sem pagar as mensalidades do populismo deixado por Lula. Depois, inventou um para si e tome chuva de notas. Atualmente, o governo distribui quase R$ 14 bilhões por mês para 20 milhões e 490 mil inscritos no Bolsa Família (R$ 666 em média para cada – nada a ver com o número da besta, pois nisso aí não existe besta em lugar nenhum). Têm ainda 5 milhões e 300 mil famílias consagradas com botijão de gás de 13kg, quase 9 milhões de crianças de até 6 anos no Primeira Infância (R$ 1 bilhão e 230 milhões) e 15 milhões e 300 mil de 7 a 18 anos, somadas a 700 mil grávidas que recebem outra bolsa, mais uma para 260 mil mulheres que estão amamentando. O leitor fica até tonto com tanto número.
Tem mais, muito mais e Lula quer mais ainda. Nesta quinta-feira (7), o Congresso aprovou isenção de imposto a quem ganha até 2 salários mínimos. E o governo passou a pagar 60 milhões de contas de luz. Calma, que essas são as doações para os pobres. As dos ricos custam muito, muito, muito mais: só em isenções fiscais passam de meio bilhão de reais por ano. Tudo isso e os números não se mexem: Lula continua reprovado por quase metade da população e apoiado menos de 30%.
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