A Secretaria da Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), por meio da Polícia Técnico-Científica e em parceria com a Polícia Civil, participa da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, promovida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A mobilização ocorre entre os dias 5 e 15 de agosto com o objetivo de ampliar a coleta de perfis genéticos e sensibilizar a população sobre a importância dessa ação na busca por desaparecidos.
“É um trabalho conjunto que busca entregar dignidade para esses familiares que tiveram seus entes queridos desaparecidos e que precisam de uma resposta do poder público”, afirmou o delegado da Polícia Civil, Webert Leonardo.
Segundo dados da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (Ribpg), em 2024, a campanha em Goiás possibilitou a identificação de cinco pessoas desaparecidas. Ao todo, o Estado contabiliza 57 identificações confirmadas via banco genético, número que representa quase 10% de todo o resultado nacional. Os dados são cruzados com os de pessoas vivas sem identidade ou cadáveres não identificados, armazenados no Banco Nacional de Perfis Genéticos (Bnpg).
A coleta é realizada pelo Laboratório de Biologia e DNA Forense (Lbdf) da Polícia Científica, que insere os perfis no banco genético. O procedimento é simples, indolor e não invasivo, feito com um swab estéril semelhante a um cotonete.
“Para doar, é necessário apresentar documentos pessoais e boletim de ocorrência do desaparecimento. Familiares também podem entregar objetos com material genético da pessoa desaparecida (como escova de dente, cordão umbilical ou dente de leite). A prioridade é para parentes de primeiro grau. É passado uma esponja no interior da bochecha, não é coleta de sangue, então não dói”, explicou Mariana Mota, chefe de gabinete da Polícia Científica.
De acordo com a coordenadora do Lbdf, Laryssa Silva de Andrade Bezerra, o cruzamento genético já possibilitou reconhecer pessoas vivas e cadáveres que estavam há anos sem identificação. “Temos em torno de 20 pessoas vivas sem identificação e já são mais de 900 cadáveres que estão aguardando essa identificação e pode ser algum desses familiares desaparecidos. A incerteza da dúvida é maior que a do luto”, destacou.
A campanha também conta com o apoio do Grupo de Investigação de Desaparecidos (GID), da Polícia Civil, que atua em casos específicos em conjunto com a Polícia Científica. “Não existe um prazo de 24h para um registro de pessoa desaparecida, caso ocorra um desaparecimento, procure imediatamente uma unidade de polícia civil para que essa rede integrada colaborativa possa entrar em cena”, reforçou o delegado Webert Leonardo.
Goiás conta atualmente com 23 pontos de coleta ativos. O principal local é o Instituto de Criminalística, em Goiânia, mas há núcleos regionais em outras cidades. A lista completa e as orientações estão disponíveis no site (goias.gov.br/policiacientifica/desaparecidos). Agendamentos e dúvidas podem ser esclarecidos pelo número (62) 98140-4071, que também funciona como WhatsApp.
Após a coleta, o perfil genético é inserido no Bnpg. Se houver correspondência com alguém localizado com vida, a família é avisada. Se for um cadáver, os familiares são informados para os devidos procedimentos legais. Se não houver coincidência, os dados permanecem armazenados para futuras buscas.
A população também pode auxiliar por meio da divulgação segura de informações. No entanto, é necessário cuidado. A recomendação é sempre divulgar cartazes e contatos oficiais da polícia para evitar golpes.
A situação de desaparecimento é angustiante para os familiares, que frequentemente relatam a sensação de impotência diante da ausência de respostas. Em entrevista concedida à reportagem, a cuidadora Luciana Camargo, familiar de dois adolescentes desaparecidos, relatou: “A polícia não está fazendo atividade, ligando, notificando e dando atualizações. A gente tem que ficar procurando, porque eles também não dão informação”.
Luciana contou ainda que o primo, integrante da Companhia de Policiamento Especializado (CPE), tem ajudado na divulgação dos desaparecimentos, mas a iniciativa partiu da própria família. “O cartaz foi medida só por nós mesmos, porque não estamos sabendo o que fazer”, disse. Questionada se havia recebido orientação oficial, respondeu: “Quando a gente está sabendo alguma coisa, a gente liga para o meu primo para ver se ele pode ajudar. Mas nem sempre está, porque ele trabalha”.
A chefe de gabinete Mariana Mota destaca que campanhas como essa visam justamente mudar esse cenário de incerteza, oferecendo alternativas científicas e seguras. “Precisamos da colaboração da sociedade. A coleta é segura, simples e pode trazer de volta a esperança de uma resposta”, afirma.
A campanha segue até 15 de agosto em todos os núcleos da Polícia Técnico-Científica de Goiás. A coleta ocorre das 8h às 18h. A participação dos familiares é fundamental para transformar dados em reencontros. “Juntos podemos transformar dados em esperança”, reforça o material institucional da campanha.
Delegado desmente mito das 24 horas e orienta sobre registro imediato
Em entrevista exclusiva ao jornal O HOJE, o delegado Pedromar Augusto de Souza, do Grupo de Investigação de Desaparecidos (GID) da Polícia Civil de Goiás, desmentiu o principal mito sobre os registros de desaparecimento e reforçou: “Essa questão de 24 horas é um mito. Não existe. Tem que ser imediatamente. Quanto antes, melhor, para a colheita de provas”.
O boletim pode ser feito em qualquer delegacia ou pela Delegacia Virtual, segundo ele. “Se a pessoa fizer online, não tem necessidade de ir para a delegacia física, mas ela precisa aguardar a aprovação pelo delegado responsável”. O registro, reforça, deve ser feito por alguém próximo: “Um parente, companheiro ou amigo. E a gente sempre pede autorização para divulgar a imagem”.
Sobre as investigações, o delegado explica que tudo depende da análise do caso: “A maioria é voluntária. Mas, se há sinais de sequestro ou perigo real, o protocolo muda.” Em casos de crianças em risco, pode ser acionado o Alerta Amber: “A imagem é pulverizada num raio de 170 km por 24 horas nas redes.”
Ele também reforça que a coleta de DNA é permitida após 60 dias de desaparecimento, desde que haja boletim: “Mesmo que a pessoa tenha sumido há 10 anos, é possível registrar a ocorrência e iniciar o processo”. Por fim, ele faz um alerta: “Evite divulgar cartazes com telefone pessoal. A imagem deve ser divulgada pela polícia, com segurança, para não expor a família a golpes”.
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