A partir desta quarta-feira (6), os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos passam a ser alvos de um tarifaço de até 50%, anunciado pelo presidente Donald Trump. Um dos itens afetados pela medida é a carne bovina, produto no qual Goiás se destaca como terceiro maior exportador do País. Segundo representantes do setor, como o diretor-executivo do Fundo Emergencial para a Sanidade Animal de Goiás (Fundepec-Goiás), Uacir Bernardes, o clima é de espera e cautela, com estratégias já sendo articuladas para evitar perdas significativas.
A medida imposta por Trump pode elevar o total de taxação da carne brasileira para até 76%, somando-se à tarifa atual de 26%, o que, na prática, torna inviável a continuidade das exportações para o mercado americano. A carne bovina brasileira, amplamente usada na fabricação de hambúrgueres nos Estados Unidos, pode sair do cardápio caso os custos aumentem drasticamente.
Atualmente, cerca de 30% da produção de carne bovina de Goiás é exportada, sendo que 12,22% desse total, aproximadamente 386 mil toneladas, têm como destino os Estados Unidos. Só no primeiro trimestre deste ano, os americanos importaram 100 mil toneladas da proteína brasileira. “Embora a possibilidade de taxação adicional preocupe, o mercado internacional de carnes está bastante aquecido, e o Brasil mantém vantagem por ter hoje a carne mais barata do mundo”, pondera Bernardes.
Produção em alta, cenário incerto
Em 2024, Goiás registrou o abate de 4 milhões de cabeças de gado, um crescimento de 13,4% em relação a 2023, o que representa cerca de 1,16 milhão de toneladas de carne bovina produzidas. O bom momento do setor, no entanto, esbarra agora em um cenário de incertezas com a mudança da política comercial norte-americana.
“Havia uma previsão de vender 400 mil toneladas para os americanos este ano. Caso a nova tarifa seja mantida, devemos buscar redirecionar parte da produção para outros mercados”, explica Uacir. O dirigente do Fundepec aponta que países como China, Arábia Saudita e México podem ser alternativas viáveis, especialmente diante de recentes mudanças no comércio internacional.
A China, por exemplo, impôs recentemente tarifas à carne australiana, o que pode favorecer a carne brasileira. Já o México e a Arábia Saudita demonstram interesse em ampliar suas compras do Brasil, o que alivia, em parte, a pressão causada pelas medidas protecionistas dos Estados Unidos.
Mercado interno e margem para negociação
Apesar das preocupações, ainda há espaço para diálogo e tentativa de reverter ou suavizar os impactos da medida. “Estamos atentos ao que pode acontecer até a próxima quarta-feira (6/8), prazo para negociações sobre a entrada no regime de exceção. Ainda há margem para entendimento”, afirma Bernardes, referindo-se a um possível acordo para manter a carne brasileira fora da nova taxação.
Caso a exportação aos EUA se torne insustentável, uma das alternativas é redirecionar a carne para o mercado interno, o que pode ter reflexos nos preços pagos aos pecuaristas. Ainda assim, ele pede cautela.
A decisão do governo norte-americano, motivada por interesses eleitorais e pressões do setor produtivo interno, reacende discussões sobre a necessidade de diversificação dos mercados consumidores da carne brasileira. A concentração em poucos destinos, como EUA e China, torna o setor vulnerável a choques externos, como tarifas, embargos e sanções.
Enquanto isso, os produtores goianos e exportadores de proteína animal seguem monitorando atentamente os desdobramentos das próximas horas. Uma certeza, no entanto, já se desenha: o agronegócio brasileiro entra, a partir de agora, em mais um capítulo de disputa geopolítica, com o prato americano no centro da controvérsia.
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