O último domingo (3) marcou o retorno das manifestações bolsonaristas ao redor do País. No primeiro ato após as medidas cautelares impostas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), surpreendeu a ausência de governadores que articulam para herdar o espólio político do ex-chefe do Executivo nacional.
O ato na Avenida Paulista reuniu apoiadores — cerca de 57,6 mil pessoas, segundo o levantamento do Poder360 — e expoentes do bolsonarismo, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o pastor evangélico Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
O líder evangélico foi o responsável pela cobrança aos governadores à direita. “Não vou deixar passar nada aqui hoje. Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Cadê eles? Onde é que eles estão? Era para estar aqui minha gente. Sabe o que fica provado? Até aqui, Bolsonaro é insubstituível”, disparou Malafaia.
“Vão enganar trouxa, e eu não sou trouxa. Estão com medo do STF? Por isso que não chegaram. Arrumaram desculpa? Por isso, minha gente, que 2026 é Bolsonaro”, concluiu o pastor, que foi ovacionado pela militância bolsonarista. Sem citar nominalmente nenhum governador, o pastor deu um recado claro para Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, cotados para disputar a presidência em 2026.
Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho participaram de atos bolsonaristas, inclusive ao lado do ex-presidente, em manifestações anteriores. Porém, em meio a tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos, em razão do tarifaço do presidente Donald Trump e o descontentamento do setor empresarial e da população, os governadores não apareceram para acenar ao eleitorado do ex-chefe do Planalto.
Cientista político pela Universidade de Brasília (UnB), Nauê Bernardo entende que “existe um risco a ser calculado” pelos governadores ao optarem por não ir aos atos do último domingo. “O risco é a aderência a pautas que podem não soar muito interessantes para o grosso da população. Isso pode explicar a postura mais cautelosa, já que a sobretaxa desagradou uma parcela relevante da população”, destacou o especialista.
Na avaliação de Jones Matos, cientista político pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a pauta “não interessa” aos governadores. “Os governadores, de certa forma, estão preocupados porque também precisam fazer um discurso nacionalista, de defesa da soberania brasileira. A defesa da soberania tem que estar relacionada à esquerda, à direita e a todos os campos políticos. Ela não pode estar relacionada só a uma força política. Afinal, você pode ter divergência ideológica, mas não pode divergir quando a seleção brasileira joga. Quando o Brasil é atacado, seja por palavras ou por decisões como a que Trump tomou, nós, brasileiros, acabamos tendo o espírito de nacionalismo, de defesa da pátria”, disse o cientista.
Leia mais: “Fechar parques e distribuidoras não torna a cidade mais segura”, diz pesquisador da UFG
Ponderação
Para Marcos Marinho, especialista em Marketing Político, os governadores precisam “ponderar a viabilidade da manutenção do atrelamento a Bolsonaro” e evitar “momentos que podem escalar tensões desnecessárias”.
“Não é interessante para nenhum deles estar em um evento onde vai se atacar frontalmente o STF e muita gente vai aplaudir o Trump, em meio à taxação ao Brasil”, disse Marinho. “Estrategicamente, a não participação sinaliza que os governadores estão mais preocupados em ver, de fato, o que vai sobrar do núcleo mais duro, mais radical do bolsonarismo. Eles não vão se afastar, mas também não vão se colocar na mira do STF, como os radicais que sobraram e que não vão conseguir atrair os votos do centro no ano que vem — daquele eleitor que não quer saber do Bolsonaro, mas também não gosta do Lula”, destacou o especialista. (Especial para O HOJE)
O post Ausência de governadores marca retorno dos atos bolsonaristas apareceu primeiro em O Hoje.