A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros impacta diretamente a economia de Goiás. Em vigor desde 1º de agosto, a medida atinge itens estratégicos da pauta de exportações goiana, como carne bovina e açúcar, e pode gerar perdas superiores a R$ 1,4 bilhão ao longo de 2025.
Um estudo técnico elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) e pelo Instituto Mauro Borges (IMB) aponta que o efeito se estende a diversas cadeias produtivas, com impacto direto no PIB estadual e risco de retração em empregos e investimentos.
A decisão tarifária amplia medidas anteriores, como as que já haviam sido aplicadas sobre o aço (25%) e o alumínio (10%) desde março deste ano. Agora, com a tarifa adicional sobre carnes e açúcar, o impacto sobre a economia goiana já começa a ser sentido — e pode ultrapassar R$ 1,4 bilhão, segundo estimativas do Instituto Mauro Borges (IMB) e da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG).
Exportações em queda e cadeias produtivas sob pressão
De acordo com dados da FIEG, Goiás exportou cerca de US$ 408,5 milhões para os Estados Unidos em 2024, sendo os norte-americanos o terceiro maior destino das exportações goianas. Desse total, 94,5% eram produtos da indústria de transformação. Só de carne bovina desossada congelada, foram US$ 150,4 milhões — volume que representa 36,8% da pauta exportadora goiana para os EUA. Outros produtos de destaque foram ferroníquel (US$ 87,3 milhões) e açúcar (US$ 73,8 milhões).
Com a nova tarifa, o setor produtivo já considera inviável manter as exportações de carne bovina ao mercado americano. De fato, os embarques começaram a cair ainda em abril de 2025, antes mesmo da entrada oficial da medida: uma redução de cerca de 67% nas exportações foi registrada. Frigoríficos locais, segundo a FIEG, já suspenderam remessas por não conseguirem manter a competitividade.
Além dos efeitos diretos — que, só no setor de carnes, podem alcançar R$ 301,7 milhões — há impactos indiretos em toda a cadeia de fornecimento. A matriz insumo-produto elaborada pelo IMB aponta perdas adicionais de R$ 802,7 milhões, atingindo segmentos como agricultura e pós-colheita, comércio atacadista e varejista, transporte terrestre e refino de petróleo. Com isso, o impacto estimado no PIB goiano é de R$ 1,36 bilhão, o equivalente a 0,36% do total do estado.
Medidas emergenciais e busca por novos mercados
Em resposta à crise, o Governo de Goiás lançou duas linhas de crédito em julho de 2025 para ajudar as empresas exportadoras a superarem o momento. Uma das opções oferece taxa de juros de 10% ao ano. O objetivo, conforme a nota técnica divulgada pela FIEG, é dar fôlego financeiro às empresas até que encontrem novos destinos para os produtos afetados.
O governo estadual também articula ações diplomáticas junto ao Ministério das Relações Exteriores para ampliar as exportações para países da Ásia, como China e Japão. No plano federal, o Ministério da Agricultura e o Itamaraty iniciaram conversas com autoridades dos EUA e buscam apoio em fóruns da Organização Mundial do Comércio (OMC). A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estuda ainda a adoção de eventuais medidas de reciprocidade.
Apesar de o governo americano ter anunciado isenção de tarifas para 694 produtos — o que beneficiou parte das exportações brasileiras —, a carne e o açúcar goianos continuam na lista de itens sobretaxados. Isso mantém o estado em situação de desvantagem, especialmente diante da dependência de poucos produtos no mercado externo.
O estudo da FIEG destaca que os setores industrial e agropecuário serão os mais atingidos. Só a indústria responderá por R$ 860,9 milhões do impacto total, seguida pela agropecuária, com R$ 250,1 milhões, e pelos serviços, com R$ 245,6 milhões. Em valores exportados, além da carne e do açúcar, outros itens afetados incluem couro (US$ 20,1 mi), café não torrado (US$ 11,6 mi), óleos e gorduras animais (US$ 8,6 mi) e matérias-primas de origem animal (US$ 8,1 mi).
Entre as recomendações técnicas apresentadas pela FIEG estão a diversificação de mercados, incentivo à agregação de valor e investimentos em inovação, além de programas emergenciais para mitigar os impactos sobre empresas e trabalhadores. A nota técnica reforça a necessidade de monitoramento constante das políticas comerciais internacionais para que o estado possa reagir com agilidade diante de novos cenários.
A íntegra do estudo foi elaborada pela FIEG em parceria com o Instituto Mauro Borges, com base em dados de 2024 e projeções para 2025.
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