Bruno Goulart
A comitiva de senadores brasileiros formada para tentar barrar o “tarifaço” imposto pelo presidente Donald Trump já está em Washington. A missão foi aprovada por unanimidade no Senado e teve início oficial neste domingo (27), com uma reunião preparatória da delegação. O encontro serviu para alinhar estratégias, revisar os principais temas da pauta e definir os pontos centrais das reuniões com congressistas norte-americanos e empresários dos Estados Unidos.
“O objetivo foi promover uma atualização da temática e alinhar os pontos que deveremos abordar ao longo da missão. Essa preparação é fundamental para garantir uma atuação coesa, institucional e estratégica em nome do Brasil”, afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e coordenador da missão.
Agenda
A agenda da comitiva prevê encontros importantes. Nesta segunda-feira (28), os senadores participam de reuniões com empresários e membros do Brazil-U.S. Business Council, na residência oficial da Embaixada do Brasil e na Câmara de Comércio dos EUA. Na terça (29), haverá compromissos com parlamentares norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos. Já na quarta-feira (30), o grupo se reúne com integrantes da sociedade civil, no Americas Society Council of the Americas.
Entretanto, apesar da ofensiva diplomática, até o momento, a Casa Branca não abriu canal direto de diálogo com o governo brasileiro. O presidente Lula revelou que o vice-presidente Geraldo Alckmin tem enfrentado dificuldades para encontrar interlocutores na administração Trump, que recentemente se ausentou dos Estados Unidos em viagem oficial à Escócia.
Ainda assim, Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, afirmou que o governo conseguiu estabelecer contato com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. “Foi uma conversa longa, na qual expusemos todos os pontos de preocupação e reforçamos o interesse do Brasil em resolver essa questão com celeridade”, declarou o vice-presidente.
A sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada por Trump no início de julho e deve entrar em vigor no dia 1º de agosto. A medida afeta diretamente exportadores brasileiros e é vista como uma retaliação política — Trump chegou a mencionar em carta enviada ao governo brasileiro o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de vítima de “caça às bruxas”.
Diante do impasse, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) sugeriu que o Brasil peça o adiamento do início da cobrança da tarifa. O governo, porém, trabalha com o objetivo de resolver o impasse ainda nos próximos dias.
Reabrir canais com os EUA
Enquanto o Executivo busca caminhos formais, os senadores tentam acionar o poder político e econômico norte-americano. “A missão busca reabrir canais com o Congresso dos EUA. Sem confronto, com responsabilidade: defender empregos, cadeias produtivas e a histórica parceria Brasil-EUA”, reforçou Nelsinho Trad.
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O senador Rogério Carvalho (PT-SE), também integrante da missão, acrescentou que o grupo pretende mostrar aos parlamentares e empresários americanos que as tarifas afetam negativamente os dois lados. “Estamos indo para construir pontes, e não muros. Queremos deixar claro que a soberania do Brasil não está em negociação”, afirmou.
Além de Trad e Carvalho, integram a comitiva os senadores Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado; Tereza Cristina (PP-MS); Fernando Farias (MDB-AL); Marcos Pontes (PL-SP); Esperidião Amin (PP-SC) e Carlos Viana (Podemos-MG).
A missão parlamentar acontece em meio à maior tarifa aplicada por Trump entre os 26 países e blocos econômicos atingidos pelas novas medidas comerciais dos EUA. A pressão sobre o Supremo Tribunal Federal, apontada por democratas como abuso de poder por parte de Trump, também acirra o ambiente político internacional.
A expectativa é que, mesmo sem acesso direto à presidência americana, a articulação com o Legislativo dos EUA e o setor produtivo possa abrir brechas para reverter ou ao menos adiar o impacto das tarifas — que, se confirmadas, podem representar prejuízos bilionários para o agronegócio e a indústria brasileira. (Especial para O Hoje)
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