Chuva demais em algumas regiões, seca prolongada em outras. Temperaturas que batem recordes históricos e oceanos cada vez mais ácidos. Para quem ainda vê as mudanças climáticas como um problema do futuro, a ciência tem uma nova resposta: o futuro chegou. De acordo com o geógrafo Wagner Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP), o mundo tem até 2028 para conter a escalada da crise climática. Depois disso, as chances de evitar um ponto irreversível diminuem drasticamente.
A avaliação é baseada em um novo estudo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, que analisou dados climáticos globais e traçou cenários com o uso de inteligência artificial e modelagens matemáticas. Segundo o levantamento, os compromissos assumidos atualmente pelos países não são suficientes para conter o avanço da crise ambiental. Até o momento, apenas 25 nações apresentaram metas atualizadas de redução das emissões, conhecidas como NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), e somente o Reino Unido tem um plano compatível com o que a ciência considera viável.
“Apenas um país tem metas compatíveis com o necessário, e isso se explica porque é um arquipélago diretamente ameaçado pela elevação do nível do mar”, disse Ribeiro em entrevista à Rádio Brasil de Fato. “Quando a situação se torna mais crítica, a resposta política aparece. Mas ainda é pouco”, completou.
Eventos extremos se intensificam antes do previsto
O professor da USP afirma que os eventos climáticos extremos observados em várias partes do planeta já são sinais claros de que os efeitos das mudanças climáticas estão se antecipando em relação às previsões anteriores. “O que era projetado para 2050 ou 2060 está começando agora. Não é exagero. São dados científicos, baseados em simulações matemáticas e inteligência artificial, que indicam a antecipação desses impactos”, destacou.
Entre os principais efeitos previstos estão secas mais severas, enchentes destrutivas, aumento acelerado da temperatura média global, acidificação dos oceanos e a perda acelerada da biodiversidade. Segundo Ribeiro, esse cenário não se trata de um alerta alarmista, mas de uma constatação baseada em evidências concretas. “É cada vez mais evidente que estamos diante de uma emergência que exige resposta imediata. A ciência tem mostrado isso com clareza”, afirmou.
Apesar da gravidade do quadro, ele observa que muitos países ainda não sentem os impactos de forma tão direta e, por isso, demoram a reagir. “Países mais vulneráveis, como ilhas e arquipélagos, tendem a agir primeiro. O problema é que a maioria ainda não se sente ameaçada — ou prefere ignorar”, disse.
Crise climática entra em contagem regressiva e especialistas alertam para prazo crítico até 2028
Brasil na COP30: oportunidade de liderança
Com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) marcada para novembro de 2025 em Belém, no Pará, o professor acredita que o Brasil terá um papel estratégico. Como anfitrião do evento, o país poderá influenciar a agenda global e propor metas mais ambiciosas. “Precisamos liderar um novo pacto climático que seja mais ousado e eficaz. O Brasil tem condições de assumir essa liderança nas negociações”, avaliou Ribeiro.
Ele também destaca a importância da atuação da sociedade civil na cobrança por medidas mais efetivas. De acordo com o professor, movimentos como a litigância climática — ações judiciais para obrigar governos e empresas a cumprirem metas ambientais — têm ganhado força, especialmente entre os jovens. “Essas mobilizações precisam de visibilidade, apoio e resultados concretos. O tempo é agora — e ele está acabando”, alertou.
Leia também: Recursos do planeta para 2025 se esgotam antes de agosto
O post Crise climática se acelera e Planeta Terra pode atingir colapso em 2028, segundo estudo apareceu primeiro em O Hoje.