Pela primeira vez desde o início da guerra, forças terrestres israelenses entraram nas áreas sul e leste de Deir Al-Balah, no centro da Faixa de Gaza. A ação foi confirmada pelo Exército de Israel na segunda-feira (21), que justificou a operação com a suspeita de que reféns estariam naquela região. O comando militar afirmou que atua com intensidade para destruir “capacidades inimigas e infraestrutura terrorista”.
A ação veio acompanhada de novos bombardeios aéreos. Segundo equipes médicas locais, ao menos três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após ataques atingirem residências e mesquitas. Os alvos estavam em uma zona onde, um dia antes, o Exército havia ordenado a evacuação de civis. Famílias que permaneciam no local fugiram para áreas costeiras e para Khan Younis.
A movimentação militar ocorre em meio ao agravamento da crise humanitária. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou que 19 pessoas morreram de fome desde sábado (19). Segundo o porta-voz Khalil Al-Deqran, hospitais operam no limite e profissionais de saúde relatam consumir apenas uma refeição por dia. “Centenas de pessoas recorrem diariamente aos hospitais, sofrendo de fadiga e exaustão devido à fome”, afirmou. Ainda, foi alertado para um risco iminente de “mortes em massa”.
A distribuição de ajuda humanitária também foi afetada por novos ataques. No domingo (20), mais de 70 pessoas morreram durante a espera por caminhões de alimentos no norte de Gaza. De acordo com testemunhas, os disparos partiram de posições israelenses. O Exército afirmou que soldados reagiram a uma “ameaça imediata”, usando “tiros de advertência” contra a multidão. Os militares disseram que os números de mortos foram “inflados” e negaram ter como alvo caminhões de ajuda.
Ainda, também na segunda-feira, o papa Leão XIV recebeu uma ligação do presidente palestino, Mahmoud Abbas, segundo o Vaticano, o pontífice se posicionou contra “qualquer deslocamento forçado em massa” e condenou o “uso indiscriminado da força” na Faixa de Gaza. Essa conversa ocorreu três dias após o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ter telefonado ao papa para lamentar o ataque à igreja da Sagrada Família, em Gaza, que resultou em três mortos e feriu um pároco.
A nova ofensiva coincide com negociações por cessar-fogo conduzidas por Egito e Catar, com apoio dos Estados Unidos. Ainda não houve sinal de avanço nas tratativas. Enquanto isso, o deslocamento interno segue aumentando. A ONU criticou duramente a ordem de retirada emitida no domingo, que afeta uma área de 5,6 km² em Deir Al-Balah. Segundo o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), entre 50 mil e 80 mil pessoas vivem na região, muitas delas deslocadas de ataques anteriores.
A área evacuada inclui estruturas de assistência, como armazéns da ONU, postos de saúde e sistemas de abastecimento de água. Para o OCHA, danos a essa infraestrutura podem ter efeitos fatais. A entidade alertou ainda que 87,8% do território da Faixa de Gaza já está sob ordens de evacuação ou declarado como zona militar israelense. Restam cerca de 12% do território para o abrigo de 2,1 milhões de pessoas.
Com a redução das áreas seguras e a intensificação dos combates, organizações humanitárias enfrentam dificuldades logísticas e operacionais. “A nova ordem compromete seriamente a capacidade de entregar ajuda”, afirmou o OCHA. Segundo o porta-voz militar israelense Avichay Adraee, a intenção do Exército é expandir as operações para áreas até então inexploradas.
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