No mais recente relatório de Monitoramento da Concorrência, divulgado esta semana pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os chamados serviços “over the top” (OTTs) — aplicações de internet como mensagens e voz — não apenas consolidaram a liderança no mercado de voz varejista, como ampliaram a distância em relação às operadoras tradicionais.
Atualmente, esses serviços detêm 54,6% do mercado de voz, alta de 0,4 ponto percentual em relação ao ano anterior. Já as tradicionais operadoras de telefonia fixa e móvel somam 43,1%. “A migração do consumidor para serviços mais flexíveis, que dispensam infraestrutura física e oferecem opções por assinatura, é clara e contínua”, afirma um especialista da Superintendência de Competição da agência.
Streaming domina o conteúdo híbrido no Brasil
O movimento é reflexo do comportamento dos consumidores, cada vez mais conectados e exigentes quanto à praticidade e ao custo-benefício. Essa tendência também se evidencia no segmento de conteúdo audiovisual. Os serviços digitais de streaming, por exemplo, dominam 89,9% do mercado de oferta híbrida — que inclui TV por assinatura tradicional combinada com serviços sob demanda. Em contraste, operadoras tradicionais concentram menos de 10% desse mercado, somando perdas de mais de 1,3 milhão de assinantes em apenas um ano.
Banda larga cresce com provedores regionais
A concentração das grandes operadoras também é desafiada no setor de banda larga fixa. Provedores regionais, em especial os de pequeno porte, seguem ganhando terreno e atingiram 56,4% do mercado em junho deste ano, frente aos 55,2% do mesmo mês em 2024. Segundo a Anatel, há mais de 22,5 mil provedores de internet em atuação no país, sendo 11,95 mil autorizados formalmente. No entanto, apenas 8 mil enviaram dados completos à agência — indício de subnotificação que pode esconder uma realidade ainda mais pulverizada.
Apesar de a maior operadora do país ainda liderar com 19,7% de participação, o relatório mostra perda de 0,3 ponto percentual em um ano. Já outras grandes empresas também enfrentam mudanças: uma cresceu de 13,8% para 14,4%, enquanto outra recuou de 9,3% para 7,9%.
SMS deve encolher 20% em volume e 28% em receita até 2029
Receita com mensageria OTT deve triplicar até 2029
Outro ponto crítico em análise é o mercado de mensageria corporativa — que também vive uma revolução silenciosa. Um estudo internacional da consultoria Juniper Research estima que a receita global com mensageria OTT para empresas deve mais que dobrar até 2029, saltando de US$ 3,6 bilhões neste ano para US$ 9,8 bilhões. O avanço será impulsionado, principalmente, pela mudança de modelo de cobrança adotado por grandes plataformas, que passarão a tarifar por mensagem enviada, em vez de por sessão.
Esse novo modelo de precificação aproxima-se do já praticado pelo SMS corporativo, conhecido como A2P (Application-to-Person), mas com a vantagem de menor custo e melhor interatividade. A tendência, porém, não é de substituição total. O relatório aponta que o SMS ainda será relevante, especialmente em segmentos como autenticação de segurança. Porém, o volume de mensagens SMS deve cair 20% até 2029 — de 5,2 trilhões para 4,1 trilhões — e a receita global, 28%, passando de US$ 66 bilhões para US$ 47 bilhões.
Crescimento acelerado do RCS e da comunicação omnichannel
Nesse cenário, novos canais como o RCS (Rich Communication Services) devem crescer de forma acelerada. A expectativa é de alta de 1.080% no tráfego entre 2024 e 2029, passando de 83,5 bilhões para 986 bilhões de mensagens, especialmente com a entrada dessa tecnologia em sistemas operacionais populares.
A liderança do tráfego global de mensagens está concentrada na Ásia, com 36% das mensagens previstas para este ano, seguida pelo subcontinente indiano (15%). Na Europa Ocidental, o crescimento dos serviços digitais é impulsionado pela alta penetração de smartphones e redes modernas, que favorecem tecnologias como o RCS. Já nas redes sociais, o consumo deve atingir 17 trilhões de mensagens até o fim de 2024, puxado pelas gerações mais jovens.
Segundo o estudo, o futuro da mensageria será marcado pela convivência de múltiplos canais — SMS, RCS, OTTs, redes sociais e e-mail — em um modelo conhecido como omnichannel, que permite às empresas se conectarem com seus clientes no canal mais apropriado a cada situação.
A era digital avança em ritmo constante e impõe desafios e oportunidades tanto para empresas quanto para consumidores. O mercado, cada vez mais competitivo, exige adaptação rápida, investimentos em tecnologia e uma leitura atenta das novas formas de se comunicar, vender e consumir conteúdo.
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