Bruno Goulart
A eleição de 2026 em Goiás pode parecer distante, mas, na prática, a corrida pelo governo já começou. No centro desse tabuleiro, surge o senador e presidente estadual do PL, Wilder Morais, que, embora não tenha anunciado oficialmente sua pré-candidatura, transformou seu aniversário, no último domingo (6), em um ato de afirmação de força.
Segundo relatos da imprensa e de lideranças políticas, cerca de 8 mil pessoas passaram pelo evento em sua fazenda, próxima a Nerópolis. Ao O HOJE, o historiador Tiago Zancopé diz tratar-se de uma estratégia para “romper com o isolamento político autoimposto e tornar-se mais conhecido no Estado”. Em suas palavras, “ninguém convida essa multidão para o maior parabéns da história sem um propósito político”.
Embora Wilder evite declarar-se candidato, seus apoiadores insistem em apresentá-lo como o nome que enfrentará Daniel Vilela (MDB), vice-governador que deve assumir o comando do Estado em abril de 2026 e tentar a reeleição. E não se trata apenas de especulação: para muitos, o PL está decidido a ter candidatura própria, independentemente de eventual reaproximação com Ronaldo Caiado (UB). Entretanto, como pondera Zancopé, “uma possível candidatura do Wilder depende da aprovação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que controla de perto as ações do PL em Goiás”.
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Essa dependência do aval de Bolsonaro ficou evidente com a desistência do Major Vitor Hugo (PL) ao Senado, substituído por Gustavo Gayer (PL), o que reforça a estratégia de construir uma bancada fiel ao bolsonarismo. Segundo o analista, esse projeto nacional pode influenciar diretamente os rumos locais: “Bolsonaro quer metade da Câmara e metade do Senado para ter força suficiente para governar ou dobrar o Centrão em favor de uma pauta de direita”.
Alianças
Ainda que o movimento de Wilder encontre respaldo em setores do eleitorado conservador, há incertezas sobre quais partidos se somariam ao PL numa candidatura isolada ao governo estadual. Para Zancopé, hoje o cenário é uma incógnita. “O PSDB goiano está reduzido a frangalhos. O PRD de Magda Mofato, federado ao Solidariedade, já sinalizou apoio a Ronaldo Caiado e não deve se alinhar a Wilder. O Republicanos também busca outro caminho. Ou seja, não existem, ao menos por enquanto, grandes legendas dispostas a embarcar nesse projeto”, analisa.
Voo solo
Enquanto o PL flerta com um voo solo, Ronaldo Caiado se antecipa. Em entrevista ao O Popular, o governador afirmou neste domingo (6) que aguarda a resposta do PL sobre uma eventual adesão à aliança em torno de Daniel Vilela. A proposta de composição é vista como uma forma de consolidar um ciclo político iniciado em 2018, quando Caiado derrotou a máquina estadual do PSDB e abriu um novo capítulo na história goiana.
“Se pensarmos nos ciclos, o de Caiado pode chegar a 12 ou até 16 anos, dependendo da capacidade de manter o grupo unido”, explica Zancopé. Na história recente, ciclos longos não são novidade: o MDB permaneceu no poder por décadas, e o PSDB teve seus 16 anos de protagonismo, interrompidos justamente por Caiado. A perspectiva de continuidade agora se apoia na entrega de obras estruturantes e em investimentos que devem ganhar mais visibilidade na reta final do mandato.
O poder de ter a máquina na mão
Nesse sentido, o analista ressalta que a percepção popular conta muito: “A população vai lembrar que, se estava devagar, agora acelerou. A inauguração do Cora, a reforma do Eixo Anhanguera, os novos ônibus e estradas criam elementos materiais que pesam muito no interior”. Para a oposição, será um desafio construir uma narrativa de que essas entregas ocorreram apesar do governador. “Explicar isso exige um discurso duas vezes mais convincente e trabalhoso”, pondera.
O perfil dos possíveis adversários também não apresenta grandes contrastes. “Wilder e Daniel são jovens, arrojados, com trajetórias políticas que não destoam tanto assim. Vai ser difícil o Wilder subir num palanque e trazer algo realmente diferente”, afirma Zancopé. Para o historiador, apostar numa candidatura isolada seria uma estratégia arriscada.
Em vez disso, o Zancopé aponta que o PL deveria buscar uma composição ampla para discutir não apenas 2026, mas o futuro além da próxima eleição. “Eu, como historiador e analista, pensaria em sentar à mesa com MDB, União Brasil, PP, PSD e essa base que já governa o Estado. Faria um acordo pensando também em 2030, não apenas no próximo pleito”, recomenda.
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