Desde que assumiu a Prefeitura de Goiânia, em janeiro, Sandro Mabel (União Brasil) tem apostado em ações de zeladoria para reforçar a imagem de uma gestão eficiente e ágil. Faixas de pedestres recém-pintadas, semáforos instalados, iluminação pública com lâmpadas de LED e mutirões de limpeza urbana se tornaram marcas visíveis da atual administração.
No entanto, o que salta aos olhos é a ausência de entrega nas grandes obras estruturantes prometidas ainda em campanha e registradas no plano de governo protocolado pela coligação em 2024.
O contraste entre o que se vê e o que se esperava escancara o caráter superficial de parte da atuação atual. A cidade foi, de fato, reorganizada em aspectos básicos o que alguns classificam como “maquiagem urbana”, mas os eixos mais complexos, como mobilidade, trânsito e gestão ambiental, seguem à espera de execução.
Na área da mobilidade urbana, por exemplo, o plano de governo previa a implantação de novos corredores exclusivos para ônibus, a construção de viadutos e intervenções para resolver gargalos históricos de trânsito. Nenhum viaduto novo foi sequer licitado, os corredores prometidos ainda não foram plenamente implementados, e não há datas definidas para o início de grandes obras.
Até agora, houve apenas intervenções pontuais, liberação de motos em faixas de ônibus, sincronização semafórica e projetos piloto, medidas que trazem algum ganho de fluidez, mas estão distantes da promessa de transformação estrutural.
Já na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), houve reestruturação administrativa, redução de cargos e contenção de gastos. A gestão ainda conseguiu autorização para um aporte emergencial de R$ 190 milhões para regularizar salários e serviços até dezembro.
Mesmo assim, o sistema de coleta de lixo continua sendo alvo de críticas, especialmente após o fechamento do aterro sanitário, por decisão do Ministério Público e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que apontaram riscos ambientais no local. A prefeitura promete implementar um novo modelo de tratamento de resíduos inspirado no sistema italiano “lixo zero”, com uma Parceria Público-Privada (PPP), mas o projeto ainda está em fase de modelagem, sem edital, sem licitação e sem cronograma público.
A cobrança da chamada Taxa do Lixo, por sua vez, já começou. O valor anual será de R$ 129, com desconto de 10% para quem optar pelo pagamento à vista, conforme estabelecido em portaria publicada no Diário Oficial do Município. O calendário com os prazos de vencimento já está definido para o exercício de 2025.
Críticas apontam maquiagem na gestão e ausência de planejamento em áreas essenciais
Em março, o prefeito chegou a anunciar a recuperação de 500 km de asfalto em Goiânia, com início simbólico no Jardim Novo Mundo. No entanto, tratou-se de recapeamento, sem relação com os eixos viários planejados como grandes obras da mobilidade urbana.
A imagem de uma cidade “bem cuidada” vem, portanto, mais de intervenções cosméticas do que de transformações estruturais. A maquiagem, neste caso, cobre parcialmente a estagnação de áreas centrais do plano de governo, como viadutos, modernização do transporte coletivo, soluções ambientais definitivas, educação e saúde.
A vereadora Kátia Maria (PT) avalia que Mabel tem agido na contramão das promessas de campanha, reproduzindo práticas da gestão anterior que ele próprio criticava. “Ele dizia que faria diferente de Rogério Cruz, mas está fazendo mais do mesmo”, afirmou.
Segundo ela, o prefeito tem atuado de forma improvisada e centralizadora, sem considerar as equipes técnicas da prefeitura. “Um exemplo disso é a adesão à ata de R$ 167 milhões para intervenções no trânsito, sem sequer indicar previamente onde essas intervenções ocorrerão. Isso mostra a falta de planejamento”, criticou.
Kátia também rebate a ideia de que a população esteja sendo enganada pelas ações cosméticas. “A população está percebendo e reclamando. Basta ver os comentários nas redes sociais do prefeito: as pessoas cobram saúde, educação, infraestrutura. O problema é que ele faz ouvidos moucos.”
A vereadora ainda apontou falhas graves na saúde e na educação. “Na saúde, foi preciso haver mortes para abrir vagas de UTI. Na educação, há um desmonte: profissionais adoecidos, piso salarial não pago, administrativos recebendo salário de miséria. É um governo que fala muito e faz pouco.”
Para Kátia, o modelo de gestão adotado pelo prefeito “tem data de validade”. “As pessoas vivem na cidade e sabem que ela não está bem. É muita propaganda e pouca entrega.”
Entramos em contato com a Prefeitura de Goiânia, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
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