Entre 2010 e 2023, o Brasil registrou 71.663 mortes por afogamento, conforme dados do Ministério da Saúde. Desse total, 12.662 vítimas eram adolescentes entre 10 e 19 anos, representando 17,7% dos casos, enquanto 5.878 (8,2%) eram crianças de 1 a 4 anos.
De acordo com o Boletim Epidemiológico 2025, divulgado pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), o afogamento figura como a segunda principal causa de morte entre crianças de 1 a 4 anos no país, evidenciando a gravidade do problema.
No cenário global, estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, em 2021, cerca de 300 mil pessoas morreram por afogamento. Dentre essas vítimas, 24% eram crianças menores de 5 anos, enquanto 19% tinham entre 5 e 14 anos.
Estudos recentes também revelam um agravamento do quadro em outros países. Levantamento realizado em 2024, nos Estados Unidos, aponta que as taxas de mortalidade por afogamento não intencional cresceram significativamente em 2020, 2021 e 2022, em comparação a 2019. Crianças de 1 a 4 anos foram as mais afetadas: 461 mortes foram registradas em 2022, o que representa um aumento de 28% em relação a três anos antes.
O mesmo estudo evidenciou desigualdades raciais: as taxas mais elevadas de mortes por afogamento foram observadas entre indígenas americanos ou nativos do Alasca não hispânicos e pessoas negras ou afro-americanas não hispânicas. Além disso, menos da metade dos adultos afirmou ter frequentado aulas de natação, com índices variando conforme a etnia: 52% entre brancos, 37% entre negros e apenas 28% entre hispânicos.
Essas disparidades também foram verificadas pela Comissão de Segurança de Produtos ao Consumidor (CPSC), que analisou os dados em 2023. A investigação constatou que crianças afro-americanas representaram 21% de todos os casos fatais de afogamento envolvendo menores de 15 anos cujas informações sobre raça e etnia estavam disponíveis. Na faixa etária de 5 a 14 anos, o percentual foi ainda mais expressivo: 45% das mortes por afogamento ocorreram entre crianças negras.
Outro aspecto preocupante destacado pela CPSC foi o ambiente das ocorrências: em 80% dos casos pediátricos em que o local foi identificado, o afogamento aconteceu em residências, como piscinas particulares ou de familiares e amigos. Entre esses episódios domésticos, 91% envolveram crianças com menos de 7 anos.
Os dados reforçam a necessidade de políticas públicas e campanhas de prevenção que contemplem não apenas o ensino de habilidades aquáticas, mas também ações voltadas à redução das desigualdades sociais e ao fortalecimento da segurança em ambientes residenciais.
Piscinas residenciais
A falta de supervisão adequada é apontada como uma das principais causas de afogamentos em ambientes residenciais. Enquanto praias públicas e piscinas comunitárias costumam contar com salva-vidas responsáveis por garantir a segurança dos frequentadores, piscinas privadas, localizadas em quintais, raramente possuem alguém designado para essa função.
Em muitos casos, a supervisão fica a cargo de crianças mais velhas, que podem não estar totalmente atentas, ou de adultos que dividem a responsabilidade com outras tarefas, comprometendo a vigilância. Além disso, nem sempre quem está observando sabe nadar, o que dificulta a atuação em situações de emergência.
Outro fator de risco é a falsa sensação de segurança presente nesses ambientes. Muitos acreditam que, por se tratar de uma piscina pequena ou rasa, ou pela presença de várias pessoas, nada de grave pode ocorrer. No entanto, especialistas alertam: crianças pequenas podem se afogar em poucos centímetros de água, e acidentes fatais podem acontecer em menos de 30 segundos.
A supervisão constante é considerada a medida mais eficaz para prevenir afogamentos infantis. Especialistas alertam que nenhuma criança deve permanecer sozinha próximo a qualquer tipo de corpo d’água, independentemente de saber nadar, utilizar boias ou estar em piscinas pequenas e rasas. O adulto responsável precisa manter vigilância ativa, evitando distrações como tarefas domésticas ou o uso de smartphones, e jamais deve estar sob efeito de álcool ou drogas.
Além disso, recomenda-se que o supervisor tenha habilidades suficientes de natação para realizar um resgate, caso necessário. A capacitação em ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e primeiros socorros para todas as faixas etárias também é indicada como uma medida de segurança adicional.
No caso de piscinas residenciais, o cuidado deve ser redobrado. A entrada de vizinhos ou amigos deve ocorrer somente sob supervisão adulta. O espaço deve ser protegido por cercas específicas, com altura mínima de 1,2 metro e travas automáticas, fora do alcance das crianças, uma exigência legal em grande parte dos estados.
Aulas de natação
Crianças de 1 a 4 anos que frequentam aulas formais de natação apresentam um risco 88% menor de afogamento, conforme revelou um estudo publicado no JAMA Pediatrics. A prática da natação na infância é considerada fundamental não apenas para o desenvolvimento motor e a coordenação, mas também para a construção de habilidades essenciais de segurança aquática.
Especialistas ressaltam que a introdução precoce à natação promove maior familiaridade com a água e o aprendizado de técnicas como flutuação, respiração controlada e deslocamento seguro. Essas competências podem ser determinantes em situações de emergência, permitindo que a criança reaja de forma mais eficaz e reduzindo significativamente o risco de afogamento.
Embora o domínio dessas habilidades proporcione uma camada adicional de proteção, a recomendação é que jamais substituam a supervisão contínua e atenta por parte de adultos responsáveis. A combinação entre vigilância adequada e treinamento em natação é apontada como a forma mais eficaz de garantir a segurança infantil em ambientes aquáticos.
Orientações de segurança também devem ser constantemente reforçadas. Entre as principais recomendações estão: nunca nadar sozinho, sempre pedir autorização antes de entrar na água e evitar mergulhos em locais desconhecidos. Além disso, especialistas alertam que crianças pequenas devem ser instruídas a não tentar pegar objetos que caem na piscina, devendo, nesse caso, solicitar a ajuda de um adulto para evitar quedas e acidentes.