As exportações brasileiras de tilápia atingiram um novo patamar no primeiro trimestre de 2025, consolidando a espécie como carro-chefe da piscicultura nacional. Segundo dados do Ministério da Economia, compilados no Informativo Comércio Exterior da Piscicultura, edição 21, a venda externa de tilápia somou 3.900 toneladas, um crescimento de 89% em volume e 112% em receita em relação ao mesmo período de 2024. O faturamento total chegou a US$ 18,2 milhões, sendo 95% desse valor oriundo de compras feitas pelos Estados Unidos, maior consumidor mundial da espécie.
Debates nacionais de exportações
O desempenho, considerado histórico por especialistas, foi destaque na Aquishow Brasil 2025, maior evento da aquicultura nacional, realizado em Uberlândia (MG). Durante o painel “Mercado de Exportação para a Tilápia Brasileira”, lideranças do setor discutiram estratégias para ampliar a presença internacional do pescado, com ênfase nos padrões exigidos pelo mercado norte-americano e na necessidade de certificações sanitárias e ambientais. Participaram do debate nomes como Jairo Gund (ABIPESCA), Vinicius Orsi (Ayamo Global Foods) e Juliano Kubitza (Fider Pescados), sob mediação de Hainnan Souza Rocha, da Embrapa.
Com o tema “Inovando e Crescendo com a Aquicultura”, o evento reforçou que, embora o Brasil ainda exporte apenas 3% da produção total de pescado cultivado, há um movimento claro rumo à expansão. “O país caminha para se consolidar como fornecedor global de proteína de peixe, com foco nos Estados Unidos, que respondem por praticamente todo o valor exportado”, destaca Marilsa Patrício, diretora executiva da Aquishow.
Tilápia domina cenário nacional
Entre as espécies nativas, o curimatá foi destaque com US$ 580 mil exportados – aumento de 333%. O tambaqui também cresceu, com US$ 479 mil no período. Já o pacu surpreendeu pelo salto percentual, partindo de uma base muito baixa em 2024. A tilápia, no entanto, domina com folga: foram exportadas mais de 3.455 toneladas, o equivalente a cerca de 72 mil carrinhos de supermercado cheios, considerando 50 kg por carrinho.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção global de tilápia deve atingir 7,3 milhões de toneladas em 2025, com alta de até 5%. O crescimento é sustentado por expectativas positivas do mercado, queda nos custos da cadeia produtiva e aumento no consumo da espécie, hoje uma das proteínas animais mais acessíveis do mundo.
No Brasil, a cadeia da tilápia tem se profissionalizado. Cooperativas como a C.Vale, no Sul do país, têm ampliado estruturas e conquistado certificações internacionais, abrindo espaço em mercados mais exigentes. Segundo a Peixe BR, associação do setor, o cenário é promissor para produtores e investidores, com expectativas de crescimento contínuo ao longo da década.
Goiás desponta como polo estratégico
Com produção de 30.730 toneladas de pescado em 2024 – aumento de 2,95% em relação ao ano anterior –, Goiás aparece como uma das regiões com maior potencial para a piscicultura no Centro-Oeste. Deste total, 23.200 toneladas foram de tilápia, espécie que lidera com folga a produção no estado. A oferta de grãos, como milho e soja, favorece a fabricação de ração e reduz custos, tornando a atividade mais competitiva em comparação com outros estados.
A infraestrutura também contribui. Goiás possui 7.336 hectares de viveiros distribuídos em mais de 30 mil unidades produtivas e cerca de 5.648 tanques-rede, revelando a diversidade de sistemas utilizados. Municípios como Niquelândia, Inaciolândia, Quirinópolis e Gouvelândia lideram a produção regional, enquanto Luziânia, Colinas do Sul e Morrinhos seguem em crescimento.
Espécie lidera piscicultura brasileira e movimenta US$ 18,2 milhões. Foto: Divulgação
Entraves tributários e ambientais
No entanto, o desenvolvimento do setor enfrenta entraves. A tributação desigual entre os estados do Centro-Oeste e as frequentes mudanças na legislação ambiental dificultam a previsibilidade e a segurança jurídica. “Temos clima, área e insumos, mas precisamos de políticas públicas que valorizem o produtor e corrijam distorções fiscais entre os estados vizinhos”, defende Paulo Roberto Silveira Filho, presidente da Comissão de Aquicultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG).
O ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, afirmou que o Governo Federal tem se empenhado em abrir novos mercados e facilitar o licenciamento ambiental da atividade. “Estamos celebrando novas cessões de uso em Águas da União e promovendo ações estruturantes para garantir crescimento com responsabilidade”, afirmou.
Apesar dos avanços, os dados da Peixe BR mostram que a produção estadual ainda apresenta oscilações. Em 2020, Goiás produziu 30.062 toneladas de pescado, com quedas e recuperações nos anos seguintes. A estabilidade produtiva ainda é um desafio a ser vencido.
Perspectivas: estabilidade e políticas públicas
Para que Goiás consolide sua posição no mercado nacional e participe com mais força das exportações, será necessário um esforço coordenado entre produtores, entidades do setor, governos estadual e federal. A simplificação da legislação ambiental, incentivos fiscais e linhas de crédito direcionadas à piscicultura são caminhos apontados por especialistas como fundamentais para a expansão.
Enquanto isso, os números demonstram que o Brasil, liderado pela tilápia, já ocupa uma posição relevante no comércio mundial de pescado. Com investimentos estratégicos e uma abordagem regional equilibrada, estados como Goiás podem se tornar protagonistas de um setor que promete crescimento constante nos próximos anos.