A China anunciou, no dia 29 de maio, a proibição total das importações de carne de frango e produtos relacionados do Brasil, devido a um caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. A decisão, divulgada pela Administração Geral de Alfândegas chinesa, representa um duro golpe para o setor avícola brasileiro, especialmente por se tratar do maior comprador individual da carne de frango nacional.
O embargo, que abrange todas as importações diretas e indiretas, determina que os produtos sejam devolvidos ou destruídos caso entrem no país asiático. Além disso, os resíduos animais e vegetais oriundos de navios que cheguem do Brasil deverão ser tratados sob supervisão aduaneira, não podendo ser descartados sem autorização prévia.
A resposta chinesa veio duas semanas após a suspensão das importações de granjas avícolas brasileiras, indicando um endurecimento das medidas sanitárias, mesmo após tentativas do governo brasileiro de conter os impactos com a sugestão de um embargo regionalizado, limitado à cidade onde o caso foi detectado. A proposta foi desconsiderada por Pequim, que optou por uma suspensão nacional.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 10 bilhões em carne de frango, equivalente a 35% do comércio mundial da proteína, consolidando-se como o maior exportador global. A China, por sua vez, lidera a lista de destinos da carne brasileira, sendo acompanhada por países como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — que, diferentemente de Pequim, impuseram restrições apenas em nível estadual. A União Europeia e a Coreia do Sul também adotaram suspensões semelhantes.
Sinais de alívio: flexibilizações pontuais
Apesar das restrições, o Ministério da Agricultura tinha informado, no último dia 22, que Rússia, Bielorrússia, Armênia e Quirguistão passaram a restringir apenas os produtos oriundos do Rio Grande do Sul, reconhecendo a eficácia das medidas sanitárias brasileiras. Por outro lado, Arábia Saudita, Turquia e Emirados Árabes Unidos ampliaram ou adotaram novas barreiras.
No total, 11 países, como Reino Unido, Cuba e Ucrânia, aplicam restrições apenas ao RS. Japão e Emirados restringem apenas o município de Montenegro. O Mapa reiterou que o consumo de carne de frango e ovos era seguro para humanos e que segue em diálogo com os importadores para restabelecer a confiança sanitária.
Goiás em alerta e com plano de contenção
Duas semanas antes dessa decisão da China, Goiás, quinto maior exportador brasileiro de carne de frango, mesmo sem registrar casos da doença, já havia intensificado ações de vigilância sanitária. A Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) implementou monitoramento ativo e passivo, fiscalizações em pontos de venda de aves vivas e reforço nas medidas de biosseguridade em granjas.
Anteriormente, a gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa, Denise Toledo, havia explicado que o estado mantém mais de 80 mercados abertos, e a China não é o principal destino das exportações goianas — Japão e Emirados Árabes lideram. Ela afirmou que “os acordos comerciais firmados com mais de 200 países têm regras menos rígidas que as da China”, permitindo a continuidade do comércio interestadual.
Impacto econômico e reações
A avicultura goiana é uma das maiores do Brasil, com polos em Itaberaí e Rio Verde, gerando mais de 240 mil empregos. Com o embargo chinês, a expectativa é de queda nas exportações e consequente aumento da oferta no mercado interno, o que pode pressionar os preços pagos aos produtores.
A Agrodefesa também realiza campanhas educativas voltadas a produtores e veterinários sobre práticas de biosseguridade, contribuindo para manter o estado livre da doença, como já ocorreu em 2023.
Governo busca solução diplomática
Diante da gravidade da crise, o governo federal aposta na diplomacia para reverter o embargo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta aproveitar a relação próxima com o presidente chinês Xi Jinping para retomar as exportações e evitar maiores prejuízos ao setor.