Pais e responsáveis por crianças com necessidades especiais como autismo, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), dislexia e síndrome de Down denunciam um cenário de incerteza e insegurança após a Unimed Goiânia anunciar, no último dia 15 de maio, o descredenciamento de três clínicas referência em atendimento terapêutico: a Clínica Amplitude, o Centro de Reabilitação e Aprendizagem Psicopedagógica (CRAP) e o Instituto Sara Jacobi. O atendimento será oficialmente encerrado em 29 de junho.
Segundo as famílias, a medida foi tomada de forma unilateral e compromete diretamente a continuidade dos tratamentos multidisciplinares de crianças que já estabeleceram vínculos com profissionais especializados. A situação afeta mais de 200 pacientes, muitos deles em situação de vulnerabilidade e com laudos que exigem terapias específicas e intensivas.
A mãe do Matheus, de 7 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), relata que o comunicado oficial não chegou por meio da operadora, mas sim das próprias clínicas. “Na crap, eles foram avisados por um motoboy que levou a documentação. As famílias foram informadas com pouco tempo para reorganizar as terapias dos filhos. A Unimed deu uma lista com quatro clínicas como alternativa, mas nenhuma delas tem todas as especialidades que nossos filhos precisam”, denúncia Wanderleia Teixeira de Oliveira, que também é psicóloga e atua na área de atendimento a pessoas atípicas.
Ela afirma que há hoje cerca de 30 clínicas credenciadas pelo plano médico em Goiânia, mas apenas 14 possuem todas as especialidades exigidas nos laudos das crianças, e mesmo essas não têm vagas. “A maioria das clínicas só tem vaga em uma especialidade. Uma atende psicologia, outra TO, outra fono. Mas como levar uma criança com necessidades complexas em locais diferentes com apenas cinco minutos entre uma sessão e outra? É inviável”, explica.
Wanderleia também chama atenção para o despreparo das clínicas ao lidar com casos mais severos ou com adolescentes. “Muitas recusam atender acima de 12 anos. Alegam rigidez comportamental, agressividade. Isso mostra que não estão prontas para receber esse público. E é esse o redirecionamento que estão oferecendo para nós?”, questiona.
Ela relata que, mesmo após o anúncio, a Unimed não dialogou diretamente com os pais e desmarcou reuniões com as clínicas. “Tentaram marcar reuniões com os diretores das clínicas, mas desmarcaram. Marcaram reunião pro CRAP só depois do prazo de descredenciamento. Isso mostra total falta de compromisso com a continuidade do tratamento”, desabafa.
Em nota oficial, a empresa afirmou que o descredenciamento foi realizado dentro das normas contratuais e com base na política de gestão da rede de prestadores. A operadora também assegura que a medida segue as diretrizes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e que nenhum tratamento será interrompido, já que clínicas substitutas foram indicadas. “Foram realizados testes de capacidade com os prestadores, que confirmaram disponibilidade de vagas e estrutura para absorver os pacientes”, afirmou.
No entanto, pais e responsáveis seguem denunciando que a realidade é outra. “As crianças não são pacotes que você muda de lugar. Elas criam vínculos, têm rotinas. Tirar isso delas, de forma abrupta, é cruel. Parece que querem reduzir nossas terapias só pra cortar custo”, finaliza Wanderleia.