A produção de arroz no Brasil entra em um novo ciclo de expansão e aposta em tecnologia e planejamento para garantir ganhos de produtividade e sustentabilidade. Goiás, que tradicionalmente tem destaque na produção de soja e milho, amplia sua participação na cultura do arroz, enquanto o país se prepara para colher a maior safra dos últimos seis anos. O movimento é impulsionado por avanços em pesquisas genéticas, mudança nos hábitos de plantio e pela valorização do grão no mercado interno.
Goiás bate recorde e se destaca no cenário nacional com arroz
De acordo com o boletim Agro em Dados, da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), a produção estadual de arroz deve alcançar 155,6 mil toneladas na safra 2024/2025, um crescimento de 19,6% em comparação ao ciclo anterior. Esse volume representa o maior da série histórica do estado e consolida Goiás na sexta posição no ranking nacional da cultura.
Além disso, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, a estimativa mais recente, divulgada em agosto, aponta que a produção de arroz em Goiás deve ter aumento de 17,7% em relação a 2023, resultado superior à média nacional, que é de 1,9%.
“O desempenho alcançado demonstra que estamos explorando de forma mais eficiente o nosso potencial produtivo. Isso é importante não apenas sob o ponto de vista econômico, mas também para a segurança nutricional, já que o arroz é um item essencial para a soberania alimentar”, afirma o secretário da Seapa, Pedro Leonardo Rezende.
Avanço da tecnologia eleva produtividade
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa em Goiás, que há mais de cinco décadas trabalha no melhoramento genético do arroz, têm sido fundamentais para o desempenho da cultura. Os novos cultivares são mais resistentes a doenças e permitem ciclos mais curtos de produção, além de exigirem menor uso de água, o que contribui para a sustentabilidade.
“Estamos falando de cultivares que produzem até 9 toneladas por hectare em apenas 100 dias. Isso é resultado da combinação entre genética avançada, manejo eficiente e investimento por parte dos produtores”, destaca o pesquisador da Embrapa, Adriano Pereira de Castro. “Em cada grão existe muita tecnologia embarcada para alcançar o máximo potencial produtivo com o menor custo e no menor tempo possível”, acrescenta.
A aposta no arroz também se reflete na escolha dos produtores. Em Bela Vista de Goiás, por exemplo, a área plantada quase triplicou em um ano. “Na safra passada, plantamos 86 hectares irrigados. Agora, são 200 hectares. O arroz produziu muito bem, superou nossas expectativas”, relata Roberto Ferreira, engenheiro agrônomo da propriedade.
Mudança no cenário nacional favorece cultura do arroz
O aumento da área plantada em Goiás acompanha uma tendência nacional. O Rio Grande do Sul, que responde por cerca de 70% da produção brasileira de arroz, ampliou em quase 10% a área cultivada nesta safra. Já o Centro-Oeste e o Sudeste, tradicionalmente focados em outras culturas, passaram a investir mais no cereal, diante da perspectiva de melhor rentabilidade.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o quilo do arroz tem sido negociado a R$ 2,36, valor superior ao da soja (R$ 2,16) e do milho (R$ 0,81). “Estamos trabalhando para garantir a comercialização e um preço justo para os produtores. Esse cenário tem levado os agricultores a optar pelo arroz”, afirma o presidente da Conab, Edegar Pretto.
A Conab projeta que a safra nacional 2024/25 será a maior dos últimos anos, interrompendo um ciclo de recuos consecutivos. A expansão reflete não só o bom desempenho de estados como Goiás, mas também a melhora na relação de custo-benefício do cultivo.
Queda no consumo preocupa setor produtivo
Embora a produção cresça, o consumo de arroz no Brasil registra queda. Dados do Ministério da Agricultura e da Embrapa mostram que o consumo interno passou de 11,8 milhões de toneladas em 2013/14 para 11 milhões em 2023/24. O SindArroz-SC, sindicato da indústria catarinense, alerta que as novas gerações estão se afastando da cozinha e preferindo refeições prontas, delivery e alimentos ultraprocessados.
“O arroz é um alimento completo, saudável e fácil de preparar. Mas os jovens vivem fora de casa, não cozinham, e isso tem impacto direto na cadeia produtiva”, explica Walmir Rampinelli, presidente do SindArroz-SC.
A substituição do arroz por alimentos processados preocupa também em termos de saúde pública. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, 68% dos brasileiros estão acima do peso, e a projeção da Fiocruz é de que metade das crianças e adolescentes estarão com sobrepeso até 2035.
Pesquisador da Embrapa mostra sementes desenvolvidas em Goiás. Foto: Divulgação
Campanhas querem reconquistar consumidor brasileiro
Para enfrentar a queda no consumo, o setor criou o Fundarroz, um fundo de incentivo criado por entidades da indústria e sindicatos de estados produtores. O objetivo é promover campanhas educativas que reforcem os benefícios nutricionais do arroz e valorizem seu papel na cultura alimentar do país.
“A cultura do arroz é estratégica para o Brasil. Estamos falando de um alimento acessível, que ajuda a garantir segurança alimentar e que tem enorme relevância econômica”, resume Pedro Leonardo Rezende, da Seapa.
Com a recuperação da produção e a mobilização de diferentes elos da cadeia, o setor aposta em um novo ciclo de valorização do arroz. A expectativa é de que o grão retome seu espaço no prato e na economia brasileira, com ganhos em sustentabilidade, competitividade e saúde alimentar.