Em meio às indefinições da política brasileira e as negociações que permeiam a disputa eleitoral de 2026, as federações prometem influenciar o jogo político de forma intensa. As próximas corridas eleitorais se desenham sob um cenário profundamente impactado pelas federações partidárias, que vêm alterando o equilíbrio de forças políticas no Brasil.
Longe de serem apenas instrumentos de sobrevivência eleitoral, as federações passaram a assumir papel central na articulação de candidaturas competitivas e na formação de blocos de poder com grande influência sobre a dinâmica entre os Poderes. Dois movimentos recentes ilustram com clareza essa transformação: a federação confirmada entre União Brasil e Progressistas (PP) e os intensos rumores de aliança entre MDB e Republicanos.
A chamada União Progressista, que reúne União Brasil e PP, já nasceu como a maior bancada do Congresso, somando 109 deputados federais e 14 senadores. A força da nova federação vai além do Legislativo: seis governadores, mais de 1.300 prefeitos e quase 13 mil vereadores compõem sua estrutura política e financeira. Mesmo ocupando quatro ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o grupo se lançou com discurso de oposição, defendendo reformas econômicas e responsabilidade fiscal, e posicionando-se como alternativa de poder.
Dentro desse arranjo, a pré-candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), à Presidência em 2026 é vista como um projeto de centro-direita que pode, cada vez mais, ganhar musculatura. Com apoio de dois dos principais partidos do Centrão, Caiado pode ver seu projeto político se viabilizar de vez.
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Em paralelo, o MDB articula uma possível federação com o Republicanos, o que significaria um realinhamento de peso no tabuleiro eleitoral. Juntas, as duas siglas formariam a terceira maior bancada da Câmara e a maior do Senado, com uma base expressiva de prefeitos e governadores. Essa articulação pode ser decisiva para viabilizar a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome que agrada tanto setores conservadores quanto quadros dos eleitores mais moderados. Em um contexto de federação, integrantes de peso da cúpula do MDB, como o presidente nacional do partido, o deputado Baleia Rossi, e o prefeito paulistano Ricardo Nunes, não iriam se opor ao projeto de Tarcísio.
Caso essa federação se confirme, o presidente Lula poderá enfrentar não apenas um adversário com ampla capilaridade política, mas também o esvaziamento do apoio de um dos partidos mais centristas e influentes do país.
Nesse novo desenho, a disputa de 2026 tende a ser marcada por um campo de centro-direita fortalecido, fragmentando ainda mais a base governista e impondo desafios ao projeto de reeleição do presidente. As federações permitem alianças estáveis e de longo prazo, forçando uma reorganização do sistema partidário que enfraquece a centralidade do Executivo e aumenta o poder do Congresso.
Lula terá de enfrentar uma campanha em que seus principais adversários não são apenas nomes populares como Caiado e Tarcísio, mas também blocos estruturados, articulados e com potencial de se tornarem protagonistas no próximo ciclo político. As eleições de 2026, portanto, não serão apenas uma disputa entre candidatos, mas entre diferentes modelos de coalizão de poder, já moldados pelas novas regras da federação partidária. (Especial para O Hoje)