Em mais uma tentativa de colocar o projeto de lei da anistia — que visa perdoar os presos pelos atos antidemocráticos do 8 de janeiro — nos holofotes políticos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou e compareceu, na última quarta-feira, 7, em Brasília, a mais um ato em prol da anistia.
A manifestação, repetindo o cenário vivido em Copacabana, no Rio de Janeiro, e na avenida Paulista, em São Paulo, não teve a adesão popular intensa, como desejava a cúpula bolsonarista. Intitulada de “Caminhada Pacífica pela Anistia”, a manifestação na capital federal não teve o tom crítico ácido como as anteriores, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e Hugo Motta foram alvos constantes dos ataques bolsonaristas.
Entretanto, Bolsonaro não deixou de cutucar a Suprema Corte. Em sua fala, o ex-presidente garantiu que a “anistia é um ato político e privativo do parlamento brasileiro”. “O parlamento votou. Ninguém tem que se meter em nada. Tem que cumprir a vontade do parlamento, que representa a vontade da maioria do povo brasileiro”, completou o ex-chefe do Executivo.
O ex-presidente, que recebeu alta do pós-operatório recentemente, estava acompanhado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro; do pastor Silas Malafaia, organizador do ato; do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG); e do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), liberou a presença na sessão da Casa Baixa na última quarta, atendendo ao pedido do líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), para que os deputados bolsonaristas pudessem participar do ato. O deputado goiano Gustavo Gayer (PL-GO) discursou no evento e, como forma de protesto, citou o nome de alguns dos envolvidos nos atos antidemocráticos.
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A concentração de apoiadores do líder da direita aconteceu na Torre de TV. De lá, caminharam rumo à Esplanada dos Ministérios. A passeata bolsonarista teve fim por volta das 18h, na avenida José Sarney, próximo do prédio do Congresso Nacional. Em seu discurso, Valdemar da Costa Neto estimou um público presente de 10 mil pessoas. No entanto, segundo o Monitor do Debate Público do Meio Digital, formado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o evento reuniu 4 mil pessoas.
Ao longo da manifestação, foram notados cartazes empunhados pelos apoiadores do ex-presidente em direção ao ministro Luiz Fux, do STF. O magistrado se tornou uma espécie de esperança entre os adeptos ao bolsonarismo, por já ter se mostrado contrário a algumas penas aplicadas aos condenados pelo 8 de janeiro. No julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos — que pichou a frase “Perdeu, Mané”, na estátua “A Justiça”, em frente à sede do Supremo —, por exemplo, o ministro propôs um ano e meio de prisão para a mulher. Porém, foi voto vencido, visto que Moraes, acompanhado por todo o resto da Primeira Turma do STF, votou para 14 anos de reclusão.
Mesmo sem o apelo popular esperado, Bolsonaro e companhia insistem nos atos em prol da anistia. O projeto pode beneficiar não só os condenados pelo 8 de janeiro, mas também o ex-presidente — réu por tentativa de golpe de Estado, que pode pegar até 46 anos de reclusão. A pressão bolsonarista continua e não deve parar, mas, pelo menos por enquanto, não faz efeito entre os caciques da Câmara, já que o projeto ainda não foi pautado. (Especial para O Hoje)