Durante o Carnaval, há uma ampla variedade de opções para a compra de bebidas, incluindo restaurantes, bares, barraquinhas de drinks e os tradicionais isopores. No entanto, é fundamental redobrar a atenção para evitar o consumo de produtos adulterados ou totalmente falsificados, que podem representar riscos graves à saúde.
De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, bebidas falsificadas são frequentemente adulteradas com substâncias tóxicas, como o metanol, um tipo de álcool também utilizado na adulteração de combustíveis. Essa prática tem como objetivo aumentar o volume do líquido e, consequentemente, os lucros da venda, mas pode causar intoxicações severas. Por isso, é essencial adquirir bebidas somente em locais de confiança e verificar sua procedência.
Uma operação conjunta entre a Polícia Civil e o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Goiás resultou na apreensão de 211 caixas de bebidas alcoólicas falsificadas, totalizando cerca de 2.500 garrafas. O material foi encontrado em um galpão localizado no Residencial Solar Ville, em Goiânia.
As investigações revelaram que as bebidas estavam armazenadas em garrafas de uísque e vodca de marcas famosas e seriam vendidas durante o Carnaval a preços muito abaixo do mercado. A origem dos líquidos foi rastreada até o estado de São Paulo.
O consumo de bebidas adulteradas pode trazer sérias consequências para a saúde, alerta o toxicologista Dr. Álvaro Pulcinell. Segundo ele, substâncias como metanol e etilenoglicol, comumente utilizadas na falsificação, são extremamente tóxicas e podem causar danos irreversíveis ao organismo.
“O perigo não se resume à embriaguez. Essas substâncias podem comprometer órgãos vitais, como rins, fígado e o sistema nervoso central. O metanol, por exemplo, pode levar à cegueira, ao coma e até mesmo à morte”, explica Pulcinelli.
Identificar uma adulteração apenas pelo gosto é praticamente impossível. “Esses componentes tóxicos não possuem sabor desagradável, então o consumidor não percebe a fraude no primeiro gole. Isso faz com que ele consuma doses maiores, permitindo o acúmulo dessas substâncias no organismo”, alerta o especialista.
Além disso, os falsificadores costumam replicar rótulos e tampas das embalagens originais, dificultando a detecção da fraude. Para evitar riscos, o médico recomenda a compra de destilados exclusivamente em fornecedores autorizados e estabelecimentos de confiança. “Se a compra for feita com ambulantes, é essencial verificar se a garrafa está lacrada e com a tampa original”, reforça.
Caso haja suspeita de ingestão de bebida adulterada, o toxicologista enfatiza a necessidade de procurar atendimento médico imediatamente. “Não existem remédios caseiros para reverter os efeitos dessas substâncias. Além dos sintomas habituais da embriaguez, podem surgir complicações graves, como insuficiência renal, inflamação do nervo óptico, perda de consciência e até morte. Ao menor sinal de que algo está errado, a pessoa deve buscar ajuda médica para receber o tratamento adequado”, orienta.
Durante o período da festividade de Carnaval, quando o consumo de álcool aumenta, os cuidados devem ser redobrados. Além de evitar o consumo de drinks falsificados, o especialista recomenda manter-se hidratado, intercalar o consumo de álcool com água, evitar ingerir com o estômago vazio e optar por alimentos leves e oleosos, como castanhas e azeite, que ajudam a retardar a absorção do álcool pelo organismo.
Por fim, Álvaro reforça um alerta essencial: “Não existe um nível seguro de álcool para quem vai dirigir. Mesmo pequenas quantidades comprometem a capacidade de condução. Se for beber, não dirija. O ideal é sempre optar por transporte por aplicativo, táxi ou contar com um motorista da rodada”.
Um relatório de dezembro de 2024 destacou que o crime organizado no Brasil tem investido na falsificação de bebidas alcoólicas, ultrapassando o cigarro como produto mais adulterado no país. Estima-se que até 36% do mercado de destilados seja composto por bebidas falsificadas, representando um risco significativo à saúde pública.
Grande parte dos líquidos entram no Brasil por rotas de contrabando que passam por países como Paraguai, Argentina, Bolívia e Venezuela. Para enfrentar essa ameaça, a Polícia Federal intensificou suas operações e causou um prejuízo de R$ 5,6 bilhões ao crime organizado em 2024, um aumento de 70% em relação ao ano anterior.
Como evitar a compra de destilados adulterados
Para reduzir o risco de comprar falsificações, o consumidor deve ficar atento a alguns detalhes e seguir orientações de segurança ao realizar suas compras. Caso desconfie da procedência de um produto, é importante não consumi-lo e denunciar o estabelecimento à Secretaria de Saúde ou ao Procon.
Uma das principais recomendações é verificar a presença do selo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), obrigatório para todas as bebidas comercializadas no Brasil. Rótulos com erros de ortografia, gramática ou design podem ser indícios de falsificação. Também é essencial confirmar a presença do selo do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que garante que o produto foi registrado e aprovado pelos órgãos competentes. A ausência desse selo pode indicar que a bebida não atende às normas de segurança.
Além disso, é importante conferir se o lacre de segurança da garrafa está intacto. Caso esteja rompido, é um forte sinal de que pode ter sido adulterada. Preços muito abaixo do mercado também devem ser observados com desconfiança, pois podem indicar falsificação.
Outro ponto a ser avaliado é a integridade da garrafa. Marcas de renome possuem rigoroso controle de qualidade, portanto, qualquer variação no volume do líquido ou sinais de reutilização da embalagem, como rachaduras ou riscos, devem ser encarados como alerta.
Por fim, a recomendação mais segura é adquiri-las em estabelecimentos confiáveis e de boa reputação, que garantam a procedência e a qualidade dos produtos. Seguindo essas precauções, o consumidor pode reduzir significativamente o risco de adquirir produtos falsificados e proteger sua saúde